quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

TOM

No meio da noite, desci para comprar cigarros. Eu estava muito aflita, porque a internet não estava querendo conectar, minha internet era discada.Precisava mandar um email de trabalho. Era mais ou menos 2 horas da manhã. Peguei a chave de casa, coloquei uma certa quantia de dinheiro no bolso e saí. Tranquei a porta e o elevador já estava ali a minha espera. Sempre que eu desço de madrugada ou chego, meu porteiro fica puto. Porque é sempre no sono profundo dele que, eu toco o interfone. Mas enfim, não posso fazer nada.
Fui direto na direção de um boteco que eu sempre compro cigarros. Um bem perto da favela, e com alguns pinguços caindo aos pedaços te comendo com os olhos. Fui lá comprar os cigarros , mas só tinha free, eu não fumo free de jeito nenhum. Dei mais alguns passos pra ver se encontrava mais alguma coisa aberta, mas não achei nada.Como não estava com sono, resolvi andar mais um pouco.Fui até a praça, porque lá eu sabia que havia uma banca de jornal 24 horas. Fiquei ali por algum tempo, adoro banca de jornal... de madrugada então é ótimo! Só fato dela estar aberta ali aquela hora da madrugada naturalmente se tornou um entretenimento.
Fiquei ali vendo alguns gibis, algumas fofocas, algumas notícias, comi um chocolate e fui embora. Ah, e comprei meu maço de cigarros.
Resolvi voltar por uma rua que corta caminho , virei a esquina, já era quase três horas da manhã. Já tava deserto. Ninguém passava muito naquela rua, principalmente aquela hora. Fui andando com os passos mais apertados . Quando de repente ouço um choro de criança , mas não sabia da onde vinha. Tinha um carro na minha frente a 50 metros de distância. Corri em direção a ele. Ao lado da calçada, embaixo da roda, estava um bebezinho todo limpinho e arrumadinho, enroladinho numa manta azul com um bilhete preso em na roupa: " Cuide de me mim se puder, ou faça o que quiser ".
Eu li aquilo e meu coração disparou. Não sabia o que fazer, olhei para os lados e não via ninguém, fiquei com medo sei lá, o que era aquilo que tava acontecendo? Eu quis ir embora, mas não conseguir largar aquele bebezinho ali. Naquele momento não consegui pensar, peguei o bebê e levei pra minha casa.
Cheguei em casa, e fui conferir pra ver se ele estava todo certinho. Mas ao abrir sua fralda :
- Ahmmmm !!
Levei um baita susto! Achei aquilo estranhíssimo. Mas era apenas um bebezinho. Então liguei para algumas amigas minhas e elas curiosíssimoas foram lá pra casa. Até preparei um leite ninho pra ele, e dei no conta gota, afinal ele era muito pequeininho e não tinha mamadeira.
Mas as meninas quando chegaram lá em casa...
- Ahmmmmmmm!!!
- Que horror!
- Gente...
Depois que o susto passou, e o bebezinho já estava dormindo, ficamos analizando-o :
- Mas como a gente vai saber o que ele é realmente?
- Não sei, vamos tentar reparar os traços...
- Vc acha a sombrancelha dele feminina??
- Não sei, não da pra saber ainda!
Então ficamos durante um tempo analizando. Eu não sabia o que fazer com ele, se eu levava para intituição carente, se eu chamava a polícia, se eu cuidava dele... passei uma noite inteirinha cuidando dele, mas sabendo que eu não poderia cuidar de uma criança agora. No dia seguinte eu já estava muito apegada .De madrugada acordei , troquei fralda, dei leite.
Fiquei pensando se ele já tinha um nome, mas naquela situação provavelmente não. Se tivesse também não importava. Então resolvi chamá- lo de Tom. Mas de qualquer forma fui olhar o bilhete que estava preso na roupa dele quando eu o achei embaixo da roda, pra ver se eu tinha deixado de reparar alguma coisa.
" Cuide de mim se puder, ou faça o que quiser"
Cada vez que eu lia aquela frase me doía o eStÔmAGo. Era muito cruel na minha cabeça! Resolvi ligar para um médico que me indicou a levá-lo pra ele examinar.Levei, estava tudo certo. Mas ele teria que passar por uma cirurgia. Imagina, eu não tinha dinheiro pra isso. Escrevi para um programa de televisão tipo esses do Gugu e Faustão no fomingo. Fui chamada para uma entrevista, apresentei a criança. Fui ao programa e foi lá que as coisas começaram a mudar na vida daquela criança, até uns pais ele conseguiu. Chorei muito quando eu o entreguei, afinal, eu achei ele na rua e queria que ele fosse bem cuidado. A família era burgusa, tinha dinheiro e garantiria o futuro de Tom. A família muito simpática, me garantiu que poderia visitar o Tom a hora que eu quisesse. Só que isso nunca aconteceu, logo eles se mudaram para Nova York, e eu nunca mais o vi. Quando ele fez 1 ano de idade fui convidada para o seu aniversário, até passagem eu recebi, mas não tive coragem de ir. Eles se mudaram de Nova York para Miami, foi a última notícia que eu tive dele. Eu tinha 24 anos quando isso aconteceu, hoje Tom já tem 16 anos e eu tinha muita curiosidade de saber do seu paradeiro.
A partir desse fato, minha vida mudou completamente. Todos os dias eu sonhava com o Tom, como se ele conversasse comigo todas as noites. Em nossas conversas, Tom aparentava tristeza, sempre tinha uma agústia no peito que eu nunca consegui descobrir o que era. Depois de algum tempo parei de ter esses sonhos, o que me incomodava, começou a me fazer falta. Cheguei até ir em Centro Espírita para ver se tinha alguma notícia. Mas era em vão. Ás vezes, eu achava que Tom havia morrido.
O tempo passou, e agora tenho sonhado com ele novamente, não todos os dias, mas vire e mexe, com uma frequência razoável.
As minhas amigas da época sumiram apenas uma se tornou minha amiga até hoje, Letícia. Eu contei uma vez do sonho pra ela, mas depois preferi ficar na minha. Porque em alguns momentos ela achava que era obcessão, que eu teria que esquecer aquilo.
Tom, foi operado, se tornou um garoto de verdade.
Eu tinha um desejo muito forte dentro de mim. Eu queria que ele estivesse feliz, só isso. No útimo sonho que tive com ele, ele falava que eu era um anjo e que estaria sempre se sentindo protegido se eu tivesse com ele. Então não sonhar com ele, era como se eu não pudesse estar ali quando ele precisasse.
Ontem, dia 29 de janeiro, eu tive um pesadelo com Tom. Ele chorava muito, chorava,chorava, chorava, chorava,chorava, soluçava,chorava e soluçava , chorava sem parar. Quando eu ia abraçar ele, aparecia em outro lugar, sussessivamente. Fiquei um tempo tentanto abraçar e não conseguia. Hoje quando acordei pensei em ir em algum programa de televisão, desses bem cafonas mesmo pra tentar ajudar na minha angustia e na dele também. Eu sentia que ele precisava de mim. Mandei carta para todos os programas que poderiam me ajudar no caso.
Estou anciosa! Tom precisa de mim, precisa !



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